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Reverse mentoring: um caminho para normalizar a aprendizagem intergeracional?

Reverse mentoring: um caminho para normalizar a aprendizagem intergeracional?

Na Ilíada, de Homero, a história de Telémaco, filho de Ulisses, descreve uma das mais conhecidas relações de mentoria. Aliás, a palavra mentoria (mentoring) deriva da relação de aprendizagem que Telémaco manteve com Mentor, um velho conselheiro, sábio e experiente. A partir de aqui se define o que é a mentoria: uma relação formal ou informal que fomenta o acompanhamento personalizado do desenvolvimento pessoal ou profissional de um indivíduo. Nesta relação, assim como na de Telémaco e Mentor, pressupõe-se que o acompanhamento é feito pela pessoa que tem mais experiência.

Em contextos organizacionais, o conceito de reverse mentoring (mentoria inversa) foi promovido por Jack Welch, antigo CEO da General Eletric, que em 1999 virou a empresa de pernas para o ar colocando, como o próprio disse, “os mais novos e melhores a ensinar os mais velhos”, criando assim um dos primeiros programas de reverse mentoring. Neste sentido, e em contexto organizacional, o termo reverse mentoring refere-se a práticas de mentoria onde um funcionário considerado júnior orienta e apoia um funcionário sénior.

Quer na definição do conceito de mentoria, quer de reverse mentoring, a tónica da relação tem (ou deveria ter) como base a experiência do mentor para orientar e guiar o seu mentorado (mentee). No entanto, através da leitura de diferentes artigos e estudos sobre reverse mentoring, notámos que a idade cronológica — ou até geracional — é sublinhada como o fator inovador nesta relação. É considerado inovador ter jovens a ensinar seniores! Pelo menos, já assim o considerara Jack Welch em 1999.

Num artigo de 2018, Charles Goff-Deakins afirma: “É hora de nos livrarmos do reverse mentoring”. Neste artigo, o autor refere que o termo é arcaico e deve cair em desuso, justificando também que é contraditório com o objetivo e desafio de promover locais de trabalho cada vez mais multigeracionais e simultaneamente inclusivos. A ideia implícita no conceito de reverse mentoring pode mesmo, se não for bem acautelada, resultar em potenciais casos de discriminação etária. O autor propõe que, simplesmente, se use o termo mentoria, que descreve, à partida, uma relação de aprendizagem que envolve duas pessoas. Esta noção é ainda reforçada com a expressão “inicitivas relacionadas com as pessoas” (people-related initiatives) para fomentar o envolvimento e aprendizagens mútuas nos locais de trabalho. Uma tarefa que, segundo o autor, compete aos departamentos de recursos humanos. Esta revisão proposta por Charles Goff-Deakins leva-nos a refletir sobre o conceito de aprendizagem intergeracional, definido pela Center for Civic Education (2001) como parte integrante da aprendizagem ao longo da vida — “toda a atividade de aprendizagem em qualquer momento da vida, com o objetivo de melhorar os conhecimentos, as aptidões e atitudes, no quadro de uma perspetiva pessoal, cívica, social e/ou relacionada com o emprego.” A definição de aprendizagem intergeracional é mais holística, como sendo uma prática que decorre naturalmente das relações humanas, em diferentes contextos, com a partilha e a transferência de conhecimentos. E é isto que tem de ser de facto valorizado. Num contexto organizacional, esta troca pode e deve ser enquadrada em práticas de mentoria formal coincidentes com os objetivos das organizações e alinhada também com as necessidades e aspirações dos colaboradores.

Neste sentido, o reverse mentoring tem contribuído para impactar e alterar positivamente as culturas organizacionais, sendo mesmo utilizado como uma estratégia para ajudar a reduzir as possíveis diferenças entre gerações. Concluímos apresentando dois exemplos de boas práticas ao nível nacional que promovem o reverse mentoring como estratégia para potenciar a pluralidade em contexto laboral.

Sonae MC – Programa de reverse mentoring

O programa foi lançado em 2019, com o lema de criar oportunidades de aprendizagem potenciadas pela diversidade etária existente na empresa. A primeira edição deste programa contou com a participação de 117 funcionários, entre os quais 63 mentores e 54 mentorados, com idades compreendidas entre os 23 e 59 anos. Devido a esta prática, em setembro de 2020, a Sonae MC foi considerada um exemplo europeu de boas práticas de inclusão e diversidade nas organizações, integrando assim o compêndio “ERT I&D Toolkit” da European Round Table for Industry.

Sonar MC Improving Our Life

Novartis – O Programa Expedition e o reverse mentoring

A Novartis tem um programa de estágios para recém-licenciados que aposta no desenvolvimento de jovens talentos portugueses. Este programa desafia estes jovens a tornarem-se mentores da equipa de liderança da Novartis.

Expedition Novartis – Programa de Trainees

Sugestões de leitura

Os benefícios da aprendizagem intergeracional

European Round Table for Industry (ERT) Inclusion & Diversity Case studies

Reverse Mentoring: a vez dos mais jovens

Sonae é exemplo europeu de boas práticas de inclusão e diversidade nas organizações

Sonae MC | Programa de Reverse Mentoring

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Jack Welch on Reverse Mentoring