Na expetativa de ter mais vozes sobre a temática da intergeracionalidade nos locais de trabalho, e dando seguimento à nossa série de entrevistas, este mês conversamos com Ceselina Matos, Business Director da Best Account, uma empresa de recursos humanos que atua nas áreas de gestão de pessoas, gestão de carreiras e employer branding. Muito curiosa e apaixonada pela vida Ceselina Matos tem como lema de vida e, de trabalho, a frase de Carl G. Jung: “Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar numa alma humana seja apenas outra alma humana”.
Entrevista a Ceselina Matos
Business Director da Best Account – Recursos humanos
Mindshift: Enquanto profissional de RH sente que os empregadores estão sensíveis à questão das multigerações e das potenciais oportunidades e ameaças que advém de várias gerações trabalharem em conjunto?
CM: Enquanto profissional de RH sinto que a questão da idade, nesta fase, não deveria ser uma questão. Defendo que cada caso é um caso, e que existem jovens de 20 anos que parecem ter 60 e vice-versa. Contudo, enquanto recrutadora sei que, surpreendentemente, é uma questão, e que existem muitas empresas que não estão receptivas a receber candidatos com mais de 40 a 45 anos.
Por experiência própria sei que equipas de várias gerações podem ser muito benéficas para uma empresa, mas, para que sejam um sucesso, terão de ser conduzidas por líderes, e esse é outro problema existente no tecido empresarial português: a falta de liderança. Temos muitos chefes e poucos líderes.
Mindshift: Quem discrimina mais: jovens ou adultos 50+?
CM: Depende muito das funções, mas diria que são ambos vítimas de descriminação.
Mindshift: Nos diversos recrutamentos que fez/faz é comum receber orientações por parte das empresas em relação à idade preferível dos futuros colaboradores? Concorda com elas? E quando estas não fazem sentido? Que estratégias usa para fazer valer a sua opinião junto dos clientes (empresas)?
CM: Tenho uma luta diária quanto a esta questão, pois as empresas continuam a pedir pessoas da idade x à idade y. Não concordo com este tipo de descriminação e com nenhum outro. Acredito que as pessoas são dotadas de competências técnicas, pessoais e sociais e deve ser esse o barómetro usado pela equipa de recrutamento, nunca a idade, o sexo ou a raça. E os meus argumentos são as competências, sempre. Existem casos em que consigo, outros em que não é possível.
Mindshift: Ao nível do combate à discriminação etária e promoção de locais de trabalho inclusivos, o que é que mudou durante a pandemia ?
CM: Na minha opinião a pandemia a esse nível não veio trazer qualquer alteração. Acho até que muitas empresas chegaram a pensar que com a pandemia o mercado iria inverter ( mais procura e menos oferta) e teriam mais facilidade em “escolher”. Contudo, tal não se veio a verificar, o que começa a ser problemático para muitas empresas, pois não existe talento no mercado. Ou, realisticamente falando, não existe talento disponível para aceitar determinado tipo de condições.
Mindshift: A sensibilidade por parte das pessoas/organizações para promover aprendizagens como mentoring e o reverse mentoring alterou-se? De que forma?
CM: As alterações são pouco significativas. Começo a ver que algumas empresas já́ começam a pensar nisso, mas ainda não é algo “natural”. Mas, tendo em conta todas as variáveis de mercado a surgir, é muito urgente começar a pensar nisso, contudo, precisamos de alterar o mindset das empresas que olham para essas dinâmicas ainda como um custo e não como um investimento.
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